Antes de começarmos a falar sobre o tema de hoje, eu lhe pergunto: você, leitor, sabe o que é “propriocepção”? Esse é o termo utilizado para definir a capacidade que temos de reconhecer a localização do nosso próprio corpo no espaço, sua posição e orientação, a força dos nossos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão. É esse tipo de percepção que permite a manutenção do equilíbrio postural e a realização de diversas atividades práticas, como desviar a cabeça de um galho, mesmo que não se saiba precisamente a distância segura para se passar, ou o simples fato de poder tocar os dedos do pé e o calcanhar com os olhos vendados. Atividades importantes como andar, coordenar os movimentos da fala, segurar e manipular objetos e se manter em pé são exemplos de situações que dependem da propriocepção.
Justamente por isso, qualquer prejuízo causado ao sistema responsável pela propriocepção traz dificuldades importantes ao dia-a-dia do paciente. Mas, afinal, o que pode causar a perda da propriocepção? Na maioria das vezes, a perda do equilíbrio corporal está intimamente associada à perda ou atrofia muscular, principalmente dos músculos da coxa. A perda degenerativa de massa e força nos músculos é chamada “sarcopenia” e, por ser um processo natural ao envelhecimento, não é considerada doença.
Cerca de um terço da massa muscular é perdida com o avanço da idade: aproximadamente 1% ao ano, a partir dos 65 anos. Por isso, pacientes idosos frequentemente apresentam dificuldade da manutenção da estabilidade ou equilíbrio, tanto em repouso quanto durante o movimento. A sarcopenia traz ao paciente idoso a insegurança ao caminhar, podendo inclusive resultar em quedas que podem trazer problemas ainda mais sérios no futuro. Este fenômeno pode ser comparado à osteoporose, que também é uma doença relacionada à idade e se refere à perda de massa óssea. A combinação da osteoporose com a sarcopenia resulta em uma fragilidade física ainda maior.
Alguns indicadores dessa fragilidade incluem: perda de peso recente (especialmente da massa magra), fadiga, quedas frequentes, fraqueza muscular, diminuição da velocidade da caminhada e redução da atividade física, todos relacionados ao mau desempenho do sistema musculoesquelético.
A frequente queixa de dor no joelho em pacientes com mais de 60 anos, em geral, é provocada pelo próprio desequilíbrio muscular, que faz com que o paciente mantenha o joelho sempre levemente dobrado ou flexionado. Normalmente esses pacientes apresentam dor progressiva, que piora com a atividade física e às vezes está associada a deformidades nessa articulação.
A boa notícia é que a sarcopenia é reversível. Tratamentos conservadores envolvem principalmente a reabilitação corporal e o fortalecimento, no sentido de corrigir a atividade dos músculos da coxa e melhorar a potência muscular.
A prática frequente de atividade física e a correção da osteoporose, quando presente, são ações primordiais que podem também ser vistas como forma de prevenção pelos mais jovens. Vale ressaltar que cada paciente possui suas limitações e capacidades e que a prática de atividade física (como a fisioterapia, hidroginástica, musculação e Pilates) deve sempre obedecer à orientação de um profissional capacitado, já que a sobrecarga ou o excesso de exercícios também é uma das causas de perda da propriocepção. Resumindo: para a sarcopenia, o exercício certo na medida certa pode ser o melhor remédio!
Fonte: Dr. José Fábio Lana - www.jmonline.com.br